Prof.
Dr. Argemiro Luís Brum
13/03/2014
A
Europa, lentamente, sai da crise, acompanhando os EUA e o Japão. Todavia, ao
custo de uma forte redução no chamado Estado-providência (Estado do Bem-Estar
Social), de um duro choque ortodoxo, centrado em mecanismos monetários, e de um
custo social elevado. O caso da Irlanda, que chegou a ser chamado de Tigre
Celta antes de afundar na crise mundial, é exemplar. No final de 2013, após
três anos de correções e reformas, o país oficialmente saiu do programa de
ajuda estruturado pelo Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo
Monetário Internacional (FMI). A Grã-Bretanha e outros países seguem o mesmo
caminho. Assim, os resultados obtidos pela Irlanda e outros tantos provam que
os duros ajustes monetários recuperam a competitividade do país e permitem que
o mesmo saia da crise, mas com altos custos sociais. Para tanto, o país foi
obrigado a cortar despesas do Estado-providência, aumentar impostos e realizar
um corte orçamentário de 28 bilhões de euros (R$ 89,6 bilhões). O déficit
público foi reduzido de 32% em 2010 para tão somente 7,3% do PIB em 2013,
graças a planos de austeridade econômica que representaram, no período, 17%
deste mesmo PIB. Mas a luta pela reestruturação de sua economia ainda é longa.
O objetivo do governo é continuar com mais dois anos de austeridade, visando
reduzir o déficit para 4,8% do PIB em 2014 e para menos de 3% em 2015. A esperança é que o
crescimento, combinado a congelamento quase que total das despesas públicas,
permita finalmente chegar ao equilíbrio econômico-financeiro do país em 2018.
Ou seja, serão 10 anos de ajustes duríssimos na economia interna do país, após
os abusos nos gastos públicos e no descontrole da economia, que foram
escancarados com o estouro da grande crise mundial de 2007/08. Na esteira das
correções irlandesas, os preços no setor imobiliário local recuaram 50% e os
salários junto ao setor privado foram congelados. Assim, o ex-tigre irlandês
sai da crise, porém, enfraquecido, com seu PIB 7% abaixo do nível em que estava
em 2007, e com 75.800 irlandeses de menos, pois decidiram sair do país em busca
de melhores oportunidades de trabalho durante a crise. Obviamente, o caminho é
prevenir, evitando que a economia do país chegue a tal estágio, ao invés de
remediar com os custos que isso representa. É isso que se tenta alertar para
muitos países latino-americanos. Todavia, enquanto a Venezuela, Argentina e
Bolívia já afundaram, no Brasil o atual governo continua abusando de gastar
mais do que arrecada, buscando se perpetuar no poder, mesmo que isso comprometa
o futuro econômico da Nação. Tal postura, que se cristaliza há pelo menos seis
anos, está levando o país para o mesmo caminho que outros tantos vêm trilhando
e que, para dele sair, obrigam sua população a pagar um altíssimo preço,
comprometendo geralmente uma geração inteira.