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terça-feira, 1 de outubro de 2013

GASTAMOS MUITO

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
03/10/2013

No comentário passado, dentre outras coisas, indicamos que o resultado da balança de transações correntes depende, além da balança comercial, da soma-se da balança de serviços e a de transferências unilaterais. Ora, a balança de serviços é composta pelas despesas com os juros da dívida externa, com os gastos dos brasileiros no exterior e outras rubricas. A parte dos juros é constantemente negativa já que ainda temos uma dívida externa que ultrapassava em agosto/13 o valor de US$ 311 bilhões. Assim, apenas em 2012 o juro líquido que pagamos foi de US$ 11,8 bilhões. Mas o que chama atenção são os gastos dos brasileiros no exterior, chamados na balança de “viagens internacionais”. Em 2012 o resultado foi negativo em US$ 15,6 bilhões (saldo entre o que os brasileiros gastaram no exterior e o que os estrangeiros gastaram no Brasil), contra US$ 14,7 bilhões em 2011. Como tal conta registra particularmente os gastos dos turistas, até se pode compreender tais resultados na medida em que o Real esteve muito valorizado nestes últimos dois anos. Todavia, nos primeiros oito meses de 2013, mesmo com a forte desvalorização cambial ocorrida desde maio passado, a tendência de gastos dos brasileiros no exterior continua em elevação. Somente em agosto o volume gasto lá fora chegou a US$ 2,2 bilhões ou 16% acima do registrado no mesmo mês de 2012. Isso levou a um resultado negativo da conta “viagens internacionais”, em agosto passado, de US$ 1,71 bilhão após o desconto de US$ 517 milhões gastos pelos estrangeiros no Brasil no mesmo mês. Com isso, no acumulado dos primeiros oito meses do ano de 2013 (janeiro a agosto) o déficit da conta soma impressionantes US$ 12,23 bilhões ou 21,4% acima do registrado no mesmo período de 2012. Nesta tendência, o déficit final em 2013 irá superar o valor de 2012 mesmo com os custos no exterior, a partir de maio, terem se elevado em mais de 22% pela desvalorização do real em alguns momentos do período (hoje a desvalorização é de 11,5% na medida em que o câmbio se estabilizou ao redor de R$ 2,23 por dólar). Ou seja, enquanto os que nos visitam economizam, nós brasileiros gastamos, em plena crise de nossa moeda e da própria economia, acima de qualquer racionalidade quando vamos ao exterior. O fato é que tal desempenho auxiliou para que a balança de transações correntes, no acumulado de 12 meses encerrado em agosto/13, atingisse o estratosférico déficit de US$ 80,6 bilhões ou 3,6% do PIB. Muito acima dos já assustadores US$ 70 bilhões projetados para o final do ano. Em resumo: o quadro econômico nacional vai piorando paulatinamente com o passar dos meses, tanto na esfera interna quanto na esfera externa. E muito também pela nossa própria culpa, pois somos perdulários, esquecendo de fazer poupança. Afinal, quem gasta em demasia hoje compromete a continuidade futura. E em economia não há almoço grátis! 



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