Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
12/09/2013
Após elevar a taxa Selic para 9% ao ano,
o Copom, em sua ata desta última reunião, surpreende a todos dando a entender
que não continuará a elevar o juro por muito tempo, pois haveria uma evolução
favorável da política fiscal brasileira. Além disso, mesmo com o IPCA se
elevando para 0,24% em agosto, após 0,03% em julho, o acumulado de 12 meses
recuou para 6,09%, se distanciando do teto da meta, que é de 6,5%. Isso
permitiria baixar a guarda futura dos juros. Ora, ao assim raciocinar o Banco
Central se dobra mais uma vez às pressões eleitoreiras do governo, oriundas do
Ministério da Fazenda. Em primeiro lugar, porque há uma clara contradição entre
o que se disse na ata do Copom de julho e esta de agosto. Isso porque nada
mudou no cenário econômico de lá para cá, não justificando a mudança no
discurso. Antes, devido a uma política fiscal expansionista, era necessário
manter a elevação dos juros. Agora, a mesma se mostra neutra, sem influências
sobre a inflação. Ledo engano! Na prática, o expansionismo continua a ponto de
o superávit primário, mesmo sendo rebaixado para 2,3% do PIB, não ser
alcançado, devendo ficar em apenas 1,7% do PIB no final de 2013. Para piorar o
quadro, o Projeto de Lei Orçamentária Anual 2014 se mostra ainda mais
expansionista do que o de 2013. Além disso, o próximo ano é eleitoral e o
governo tende a naturalmente gastar mais em busca da reeleição. Assim, a
pressão inflacionária deverá se manter. Dito de outra forma, não há como
aceitar o discurso de que a política fiscal vai ficar neutra. Deve-se somar a
isso o fato de que o impacto da desvalorização do Real, sobre a inflação, se
estender pelo resto do ano, mesmo com a moeda, neste momento, se aproximando de
R$ 2,25 por dólar, valor que consideramos aceitável diante da paridade de poder
de compra em relação ao ocorrido no ano de 2012. Soma-se a isso o fato de que a
inflação acumulada entre setembro/12 e agosto/13 esconder uma dura realidade ao
brasileiro: os preços administrados subiram apenas 1,2% enquanto os preços
livres aumentaram 7,6%. Ou seja, no primeiro caso o governo vem segurando os
preços dos produtos e serviços sob controle público, caso dos combustíveis,
comprometendo a competitividade futura das empresas estatais que os oferecem,
além de protelar um reajuste brutal que um dia terá que vir. No segundo caso,
os preços que medem o real custo de vida dos brasileiros dispararam e continuam
subindo, confirmando que a inflação real é muito superior aos dados oficiais.
Nesse sentido, não há como deixar de aumentar os juros. Aliás, o mercado espera
uma Selic entre 9,5% e 10% ao final do corrente ano. Se o governo não o fizer,
estará errando mais uma vez, trocando um ajuste necessário, mesmo que freando o
PIB, por um alívio imediato eleitoreiro e que penalizará mais uma vez o cidadão
brasileiro logo adiante e por muito mais tempo.