Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)
25/07/2013
Apesar de ter rompido o teto da meta em
duas oportunidades no primeiro semestre, a inflação oficial brasileira pode
ficar abaixo dos 6,5% em 2013. Isso porque, entre setembro e dezembro, os
índices mensais a serem registrados tendem a ser inferiores aos elevados
índices dos mesmos meses em 2012, que ficaram entre 0,57% e 0,79%. Além disso,
a inflação de julho/13 será menor do que o esperado porque, graças às
manifestações populares de junho, não houve reajustes no transporte público. Dito
isso, a derrapagem também pode acontecer porque há um indicador recente que ainda
não está contabilizado: a forte desvalorização cambial, nos últimos dois meses,
que se mantém ao redor de 11%. Os efeitos da mesma começarão a chegar sobre os
preços dos importados, de forma mais intensa, a partir de agosto. E o governo
não está conseguindo reverter o quadro cambial, mesmo com as fortes vendas de
dólares promovidas pelo Banco Central. Segundo diversos setores produtivos de
nossa economia, a começar pelo de alimentos e bebidas, o efeito cambial
começará a ser repassado aos preços junto aos consumidores na altura de 5% a 8%
no próximo mês. Sem falar nos aumentos existentes nos produtos internos que
usam, de alguma forma, componentes importados. Desta forma, o real problema já
é o cenário inflacionário para 2014. Aliás, é isso que vem alimentando as altas
da Selic. Tanto é verdade que o juro básico deverá continuar subindo até o
final do ano, devendo fechar 2013 ao redor de 9,5%. Paralelamente, a alta dos
juros freia ainda mais o PIB, tanto para este ano quanto para 2014. Embora o
governo ainda se mantenha otimista para 2013 (agora fala em 2,5% a 3% de
crescimento), o mercado aponta números ao redor de 2%, sendo que muitas
instituições começam a calcular um crescimento entre 1,5% e 2% apenas. Para
2014 o PIB não seria muito diferente disso! Por trás desta projeção surgem
outros números preocupantes: o emprego em geral diminui; o desemprego em muitos
setores já é uma realidade; o pleno emprego nunca existiu; e o emprego
industrial teve a maior queda, em maio, desde o final de 2009. Aliás, o
resultado de maio passado foi o 20º resultado negativo consecutivo na
comparação com o mesmo mês de um ano antes. Para completar o quadro, o
investimento externo na indústria nacional recuou 47% nos primeiros cinco meses
de 2013. Muito mais do que o recuo de 23% que o investimento estrangeiro direto
registrou no mesmo período para o total da economia nacional (nos primeiros
cinco meses do ano entraram no Brasil, sob esse tipo de investimento, apenas
US$ 16,7 bilhões quando o governo esperava, para todo o ano, um valor ao redor
de US$ 60 bilhões). E a perda de confiança, por parte do investidor
internacional, na condução da economia brasileira só fez aumentar desde então. O
quadro é tão difícil que o próprio governo já se convenceu de que precisa
realizar cortes de custeio junto aos gastos previstos para este ano (acaba de
cortar R$ 10 bilhões, porém, se quiser alcançar resultados palpáveis, terá que
cortar muito mais).