Diante dos imensos desafios fiscais e de uma dívida pública que bate em 1,1 trilhão de dólares, o governo eleito não pode continuar a manter suspense na escolha de sua equipe econômica. E se a escolha não for responsável, em relação ao déficit fiscal, continuaremos a assistir esta volatilidade do mercado, com aumento da desvalorização do Real, recuo da Bolsa e pressões inflacionárias novamente presentes. É um erro querer enfrentar o mercado. Afinal, é este mercado, quer queiramos ou não, que financia a dívida pública crescente, através da compra de títulos públicos. Uma dívida pública que, por mais necessárias sejam as medidas sociais, precisa ser administrada corretamente, cortando despesas de um lado e gerando receitas de outro, lá onde é possível. Inclusive realizando as reformas estruturais que estão paradas. Caso contrário, a inflação retorna com força, sem nem mesmo ter voltado à meta (a inflação média da cesta básica no Brasil, para 12 meses, fechou outubro em 16,17%, enquanto a oficial está em 6,47%). Não é por nada que o presidente do Banco Central indica que, em tal contexto (boa parte também gerado pela herança que vem sendo deixada pelo governo Bolsonaro), o juro básico volte a subir. Já se avança 15% de Selic para 2023 diante das incertezas existentes. Ora, se isso segura a inflação, também freia o pouco de crescimento econômico que se espera para o próximo ano. Hoje, um PIB entre 0% e 1% para 2023 é o que se desenha. Algo insustentável para um país que, em outubro, bateu um recorde de famílias inadimplentes, com 30,3% do total, enquanto o endividamento atinge 79,3% das mesmas. No Rio Grande do Sul, são 36,8% em situação de inadimplência. Isso explica que os saques na caderneta de poupança têm superado os depósitos. Nos 10 primeiros meses do ano, as retiradas geraram um saldo negativo de R$ 102,1 bilhões na poupança nacional, quase o dobro do ocorrido em 2015, pior ano até então na série histórica. Diante de uma renda muito baixa, as famílias têm consumido o pouco de poupança que possuem. E aumentar o rombo fiscal piora este quadro geral, o que atinge especialmente os mais necessitados, justamente a quem as medidas sociais visam favorecer. Sem falar que, um tal descuido, tende a levar a dívida pública para 95% do PIB no final do próximo governo, contra os já preocupantes 77% atuais.
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