Em função da pandemia da Covid-19, o déficit
público brasileiro deverá bater em 8% do PIB neste ano e a dívida pública bruta
atingir entre 90% a 100% do PIB. O Brasil será um dos países mais atingidos
economicamente pela crise porque a mesma nos alcança ainda despreparados, sem
termos feito os ajustes nas contas públicas. Isso ajuda a explicar porque nosso
PIB vai cair cinco vezes mais que a média dos países emergentes em 2020,
segundo o FMI (o recuo projetado está entre 5% e 6%, consolidando mais uma
recessão). Assim, enquanto a economia mundial vive seu pior momento desde a
Grande Recessão de 1929, o Brasil fechará 2020 com a pior década econômica em
120 anos (crescimento médio ao redor de 0,3% ao ano), sendo que a recessão de
2020 será a pior desde 1901. Deveremos retornar ao PIB de 2010, perdendo uma
década, completando 10 anos com as contas públicas no vermelho, sendo que o
rombo de 2020 deverá ultrapassar os R$ 600 bilhões. Neste contexto, ainda
iremos amargar, provavelmente, mais uma década de crescimento insuficiente
(abaixo de 4% ao ano na média). Já para 2021, enquanto a recuperação esperada, no
Brasil, é de 2,9% no PIB (podendo não ser nem metade do que cairemos no
corrente ano), o FMI projeta recuperação média de 6,6% para o conjunto dos
emergentes. E esta recuperação fica ainda mais comprometida pela pouca ação do
governo em favor das empresas brasileiras atingidas pela crise viral. Em
proporção do PIB, por exemplo, nós estamos destinando apenas 0,62% a programas
de suporte às pequenas e médias empresas durante a crise, enquanto nos EUA o
volume chega a 4,43%. Assim, a crise aprofunda sobremaneira o fato de não só
não termos feito os ajustes econômicos necessários nos últimos 10 anos, como em
boa parte do período o quadro foi piorado pela ação dos governos. E os
resultados dos últimos três anos pós-recessão (2017 a 2019) são pífios
(crescimento médio de 1,2% ao ano). Desta forma, se os gastos públicos em
socorro à economia devem ser mantidos e melhorados enquanto durar a pandemia,
pois não há outra saída imediata, também é verdade que, passada a crise, o
Estado deve retomar o rumo do ajuste fiscal, sabendo que, agora, o mesmo levará
de dois a três anos adicionais. Portanto, os gastos para enfrentar a Covid-19
devem ser vistos como temporários, e não deverão continuar. Errará o governo se
decidir, pós-pandemia, esquecer o ajuste fiscal e partir para um programa
desenvolvimentista populista/eleitoreiro. Já sabemos onde nos leva esta segunda
opção. É por isso que o anunciado programa Pró-Brasil, em suas linhas gerais
importante, precisa ser organizado em acordo à retomada do ajuste fiscal
irrestrito. Para tanto, o mesmo terá que estimular o investimento privado,
aliviando o setor público. Caso contrário, a inviabilização de nossa economia
será mais longa e profunda do que já se projeta.
:)
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