Argemiro Luís Brum
19/09/2019
Na sequência do comentário da semana passada,
vale ainda destacar que nossa economia se mantém estagnada, praticamente no
fundo do poço pós-recessão, porque o consumo não cresce. A política anterior,
de estimular o mesmo a qualquer custo, sem que houvesse uma cultura financeira
junto à população, nos trouxe a uma realidade onde 64% das famílias brasileiras
se encontram endividadas (maior nível desde julho de 2013), sendo que 78,8%
destas dívidas estão no cartão de crédito, instrumento que cobra juros anuais
ao redor de 300% em caso de atraso no pagamento da fatura. E por falar em
atraso de pagamento, o Brasil registrou um crescimento de 9% neste quesito,
apenas no primeiro semestre deste ano, atingindo a 41% da população adulta
inadimplente (62,6 milhões de brasileiros). No Rio Grande do Sul, por exemplo,
a renda do trabalhador segue no mesmo nível de 2014. Dito de outra forma, entre
o segundo trimestre de 2014 e o segundo trimestre de 2019 a renda média do
trabalhador gaúcho aumentou míseros R$ 21,00 ou 0,8% em cinco anos. Como
esperar que o consumo puxe o crescimento econômico com tal realidade? Enfim, para
completar o quadro, as relações comerciais internacionais sofrem com a postura
desastrada do executivo, assim como com a freada da economia mundial, fato que
nos leva a exportarmos menos (em valor, o Brasil exportou 5,1% menos neste ano
– até o final da primeira semana de setembro – em relação a igual período do
ano passado, sendo que o saldo positivo recuou 12,1% na mesma comparação), lembrando
que um terço de nosso PIB depende do comércio exterior. Resultado de toda esta
realidade: o país parou nestes últimos quase 10 anos e sua recuperação está
sendo muito mais lenta do que a maioria imaginava, com o risco de não se
consolidar. Os recentes soluços positivos, caso do PIB de 0,4% no segundo
trimestre do corrente ano, ainda são insuficientes para se cravar uma
tendência. Por enquanto se tem a continuidade de um cenário de estagnação
pós-recessão o que, para alguns economistas, já caracteriza uma depressão econômica,
pois há quase seis anos estamos ou em recessão ou em estagnação. Mas a equipe
econômica, nestes oito primeiros meses de novo mandato reage, inclusive com
algum apoio do Congresso Nacional. Quais são suas principais reações e que
resultados podemos delas esperar? De forma geral, as reformas tendem, se bem
realizadas, a gerar um ambiente favorável na economia no longo prazo. Todavia,
não resolvem os problemas imediatos do país, que precisam ser atacados de forma
pontual e eficiente, a partir de um Estado organizado, algo que ainda está
longe de existir. (segue)