Não é de hoje que
estamos alertando para o fato de que a atual geração de emprego, se é positiva
pois em crescimento, tem seu lado negativo pois carece de qualidade. Estudo
coordenado por Nelson Marconi (Conjuntura Econômica, FGV, março/25 – pp. 30-36)
confirma esse alerta. Hoje, a taxa de desemprego no país é uma das mais baixas,
com 6,8% no trimestre encerrado em fevereiro/25 (a média de 2024 foi de 6,9%).
Comparando com 12 anos atrás (2012), quando a taxa média estava em 7,4%, o
estudo foi orientado pela análise da demanda de emprego “buscando identificar
quem contrata e para que tipo de ocupação, apontando às habilidades requeridas
no mercado de trabalho, olhando o comportamento do emprego e remunerações em
setores e ocupações”. A partir daí, as principais conclusões do estudo foram:
1) “o crescimento atual do emprego, no setor privado, mostra maior polarização
e precariedade em termos salariais”; 2) entre 2012 e 2024, os salários
relativos que aumentaram estão nos setores que mais prosperaram nos últimos
anos, como finanças, tecnologias e serviços digitais e agropecuária (ainda que,
neste último, os patamares salariais permaneçam muito baixos); 3) 65% no número
de pessoas ocupadas no setor privado deu-se em combinações que praticam
salários relativos baixos; 4) o dado que aponta a precarização que ocorreu no
mercado de trabalho do setor privado, ao longo do tempo no Brasil, é a
concentração do crescimento do emprego em combinações de setores/grupamentos
ocupacionais em que se observam salários relativos baixos; 5) o mercado de
trabalho encontra-se tão aquecido quanto em 2012, mas com características mais
precárias, pois os empregos criados são de menor qualidade considerando como
critério de análise o salário relativo praticado, e mesmo a remuneração para as
ocupações que demandam trabalhadores mais qualificados diminuíram em termos
relativos; 6) a perda de dinamismo do setor produtivo, dada a redução de setores
industriais relevantes e a timidez dos investimentos em setores de serviços
tecnologicamente mais sofisticados, contribuem para esse quadro. Essa realidade
explica, em boa parte, o alto endividamento e inadimplência da população
brasileira e escancara o custo dos baixos índices de qualificação e ensino no
país.