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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

PIB TRIMESTRAL: HÁ ESPINHOS NO CAMINHO (Prof. Dr. Argemiro Luís Brum)

O PIB do segundo trimestre foi surpreendentemente elevado. Uma ótima notícia quando visto de forma geral. Entretanto, ao detalhá-lo, surgem nuvens no horizonte. O mesmo foi puxado pelo consumo, tanto do governo quanto das famílias. Ou seja, nossa economia roda com um consumo em nível muito acima do esperado, ao mesmo tempo em que os investimentos vêm bem menores, embora em crescimento. Assim, nota-se que o crescimento da demanda interna foi de 4,7% sobre o mesmo período do ano anterior, o que indica que estamos “testando os limites da capacidade produtiva do país”. Boa parte disso se explica pelo forte aumento dos gastos públicos, os quais vão muito além da reconstrução do Rio Grande do Sul pós-enchentes. Desta forma, enquanto a economia “roda a plena carga”, não se nota grande preocupação do governo com a agenda de controle de gastos, apesar do ministro Haddad. E rodar desta maneira gera desequilíbrios crescentes. Em algum momento a conta vai chegar. Para lembrança, entre 2006 e 2013 o crescimento de nossa economia foi de 37%, enquanto a demanda interna cresceu 48%. Ou seja, a oferta de bens e serviços não deu conta da demanda. A conta chegou com uma brutal recessão entre meados de 2014 e o final de 2016. Estaríamos “iniciando uma dinâmica semelhante”? E o problema é que as importações não conseguem fechar a lacuna existente entre a maior demanda e uma menor oferta interna. O resultado é a disparada inflacionária, a qual fica muito pior se a moeda nacional permanece desvalorizada acima do normal (caso dos últimos meses no Brasil), pois importamos inflação. Assim, o Real precisa voltar aos níveis de R$ 4,80-R$ 5,00 rapidamente. Do contrário, se tentará frear a economia pela retomada do juro elevado. Portanto, “puxar o crescimento, liderado pela demanda, até o limite da capacidade produtiva da economia, no curto prazo parece muito positivo, porém, estruturalmente a ação é perigosa e, em algum momento, virá um ajuste. Este poderá ser altamente dolorido, especialmente se o novo presidente do Banco Central não segurar a pressão populista de nossos governantes. Afinal, o populismo nunca foi bom conselheiro para a política econômica em qualquer instância que seja (cf. Pessôa, S. Conjuntura Econômica, FGV, setembro/24, pp. 14-16).

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