Argemiro Luís Brum
05/12/2019
Depois
da reforma previdenciária, que saiu incompleta, o governo não conseguiu (ou
quis) avançar nas demais reformas estruturais, especialmente a tributária e a
administrativa. A discussão das mesmas fica para 2020, após o recesso do Congresso,
ou seja, a partir de março. Considerando que o próximo ano é de eleições, pouco
se tomará de decisões difíceis como estas a partir de julho. Assim, o governo
terá de quatro a cinco meses para fazer alguma coisa neste sentido. Muito
pouco! O motivo principal desta freada no processo vem do exterior e,
particularmente, dos países vizinhos. As reformas são fundamentais, o ajuste
fiscal do Estado necessário, o acerto das contas públicas urgente, porém, tudo
isso deve ser bem-feito, ou seja, de forma igualitária, sem penalizar alguns
(geralmente os pobres e a classe média) em favor de outros (os mais abastados).
Ou seja, a política econômica liberal é bem-vinda, porém, deve ser bem
executada. O estouro social em diferentes países do mundo em geral e da América
do Sul em particular, nestes últimos meses, confirma que, qualquer que seja o
modelo econômico adotado, sem ações igualitárias, o processo freia dia mais dia
menos, inclusive comprometendo o futuro da Nação. Já vimos no que deu o uso
irrestrito do Estado, sem controle dos gastos públicos. Estamos vendo agora no
que dá (ou pode ainda dar) em ações ultraliberais de correção, sem que as
mesmas sejam bem-feitas (entendidas aqui, e sempre foi este o sentido, desde
que respeitem a realidade econômica das diferentes classes sociais). O governo
brasileiro dá sinais de estar assustado com os fatos externos a este respeito e
ficou perdido nos últimos tempos em como agir. A ponto de insistir com
indicativos em torno do retorno do AI-5 ditatorial caso haja manifestações
importantes contra as medidas econômicas. De fato, se as correções econômicas
do atual governo, embora necessárias, continuarem a penalizar alguns segmentos
sociais em favor de outros (geralmente sempre os mesmos) o país vai estourar,
como ocorreu em 2013. Além disso, o presidente da República e sua prole ainda
não aprenderam a agir como manda a nova situação política que ocupam, mais
atrapalhando do que ajudando ao encaminhamento das soluções para os problemas
econômicos nacionais. A significativa saída de dólares do país neste segundo
semestre, mesmo depois de aprovada a reforma da Previdência, a qual levou o
Real a bater no seu recorde de desvalorização, é um indicativo desta realidade.
Até os primeiros dias de novembro saíram do país US$ 21 bilhões, sendo o maior
volume registrado desde 1999, e a tendência é de este volume aumentar nos
próximos meses. (segue)