Argemiro Luís Brum
12/12/2019
Um
dos sinais de que as coisas começaram a travar na economia brasileira vem da
menor oferta de dólares. Além da saída dos mesmos do país, como vimos na coluna
passada, há forte redução no saldo da balança comercial (o mesmo deverá
terminar o ano na metade do valor de 2018), e registramos hoje um déficit
crescente na balança de transações correntes, o qual já chega a 4% do PIB. E
isso que a economia brasileira está com grande ociosidade, pois estagnada há
anos, favorecendo os investimentos. A situação se complica na medida em que o
preço dos alimentos começa a subir fortemente, caso da carne bovina, suína,
feijão etc..., pressionando ainda mais a população que vem pagando a conta dos
ajustes. O governo está assustado porque, finalmente, parece ter se dado conta
de que o problema da crise brasileira é estrutural, mas não só na economia,
também nas questões sociais. E a receita liberal, mesmo sendo boa, não pode ser
aplicada unilateralmente. Ou corrige o rumo dos ajustes e faz reformas
adequadas e justas, ou vai paralisar, diante do risco de ver estourar tensões
sociais equivalentes aos dos países vizinhos. A realidade chilena já mostrou
que isso é possível e o mercado financeiro, atento sempre a estas questões,
está demonstrando sua preocupação. E no meio de tudo isso a economia mundial
continua a dar indicativos de crise forte pela frente. Dois deles recentes: o
FMI, em outubro, apontou que perto de 90% do PIB mundial deve desacelerar em
2019, sem grandes perspectivas de melhora para 2020, sendo que as consequências
nefastas desta situação “podem durar uma geração”; a OCDE, organização que o
governo atual quer colocar o Brasil, informa que a economia mundial deverá
crescer apenas 2,9% neste ano e repetir a dose em 2020, sendo o crescimento
mais baixo da década, apontando que “é um erro imaginar que tal situação se
deve a fatores temporários, pois eles são estruturais”. Para corroborar estes
alertas e nossas impressões destacadas nestas duas últimas colunas, o jornal
britânico Financial Times, no final de novembro, ao concordar que o Brasil
“segue um programa de reformas que está entre os mais ambiciosos dos mercados
emergentes, parece estar oscilando no que e como fazer daqui em diante,
tendendo a abandonar uma mudança econômica potencialmente arriscada para
preservar seu apelo populista eleitoral, correndo o risco de perder
oportunidade agora, pois a janela para mudanças será fechada, talvez por anos,
e os investidores internacionais irão para outro lugar”. A questão toda é saber
dosar socialmente as reformas a fim de não provocar as tensões que atualmente
ocorrem mundo afora, fato que, parece, o governo não sabe ou não consegue fazer
(ou ainda, não está querendo fazer), se mostrando indeciso e perdendo sustentação
naquilo que lhe dá ainda credibilidade: a economia.