Argemiro Luís Brum
19/12/2019
No momento, após a violenta recessão vivida entre meados de
2014 e o final de 2016, a economia brasileira acusa uma lenta recuperação, com
um crescimento médio ao redor de 1,3% entre 2017 e 2019. Saímos da recessão,
mas estagnamos em um crescimento largamente insuficiente. Estamos diante de
uma recuperação a mais lenta da história conhecida,
com a economia girando
hoje (final de 2019) em nível 3,6% inferior ao
do pico anterior à recessão (início de 2014). Ora, na média das últimas nove recessões brasileiras, depois de 22
trimestres, o PIB já era mais de 10% superior ao pico anterior à recessão.
Assim, no ritmo atual, o nível que tínhamos antes da crise somente será
retomado entre meados de 2022 e início de 2024. No momento, em perspectiva,
espera-se para 2020 um PIB entre 2% a 2,5%, a partir do alento vindo do PIB do
terceiro trimestre de 2019 (0,6%). Duas rubricas se destacaram no mesmo: o
consumo das famílias e os investimentos. No primeiro caso, a reação se deu graças
a medidas pontuais, como a liberação do FGTS, assim como, em parte, à redução
do juro básico. Mas essa reação não parece ser estrutural, pois não há poupança
nas famílias e sim dívida e inadimplência. De fato, nossa taxa de poupança
nacional está ao redor de 15% do PIB quando o ideal seria algo em torno de 25%.
Já a melhora nos investimentos parece ser de ordem mais estrutural, puxados
especialmente pela construção civil neste final de 2019. Mesmo assim, a
construção civil ainda está 30% abaixo do pico anterior e hoje ainda 23% abaixo
do nível que estava em 2014. Ao mesmo tempo, a taxa de investimento está em
16,3% do PIB, mas a preços constantes ainda é de 15,5% do PIB. Ou seja,
insuficiente para um crescimento mais robusto. O fato é que, mesmo com mais crédito e juro básico baixo, o maior
problema continua sendo a falta de renda da população devido ao alto desemprego
e a geração de empregos de baixa qualidade. Desta forma, não se gera renda nova
e as empresas acabam competindo pela mesma renda disponível, o que favorece
àquelas com mais escala em detrimento das demais. Neste contexto, o cenário para 2020 é de melhoria, porém, bastante lenta
(não se descarta, por questões conjunturais, alguma aceleração pontual).
Todavia, a recuperação tem pela frente alguns riscos importantes: 1) a
possibilidade de eclodir uma recessão mundial em algum momento entre 2020 e
2024; 2) se continuarem muito duras as medidas internas de correção, sobre as
mesmas classes sociais (está difícil atacar os privilégios), cria-se um
potencial de explosão social (tipo os países vizinhos); 3) além disso, no curto
prazo, o país terá eleições em novembro/20, reduzindo a janela para ajustes
para o período de março a julho. Enfim, o quadro continua exigindo cautela,
embora o pior parece ter sido superado. O desafio, agora, é sair da estagnação
econômica que vem desde 2017.