Argemiro Luís Brum
07/11/2019
Terminamos a coluna passada elencando pontos que
não são mais possíveis de serem mantidos em nosso país se queremos gerar
crescimento e desenvolvimento socioeconômico. Além dos já citados, outros cinco
pontos, no mínimo ainda merecem atenção: 1) enquanto a renda domiciliar per
capita brasileira, em 2018, era de R$ 1.373,00, em 2017 tínhamos 54,8 milhões
de pessoas ganhando menos de R$ 406,00 mensais (abaixo da linha de pobreza),
enquanto tem procurador da República se queixando por receber R$ 24.000,00
mensais (ZH, 11/09/19, p. 2); 2) em termos específicos da previdência, segundo
o IBGE (com dados de 2017 e 2018), a renda média das famílias mais ricas, com
aposentadorias e pensões, supera em 20 vezes o valor recebido pelas famílias
mais pobres do país (ocorre que os mais ricos representam 2,7% dos aposentados,
enquanto os mais pobres somam 23,9%, sendo que as famílias com renda superior a
25 salários mínimos recebem, em média, R$ 4.276,02 com aposentadorias e
pensões, enquanto as com renda inferior a dois salários mínimos recebem R$
207,17); 3) o IBGE ainda mostra que 19,9% de toda a renda nacional fica com
apenas 2,7% das famílias (1,8 milhão de unidades familiares), enquanto 23,9%
das famílias (16,4 milhões de unidades) ficam com apenas 5,47% da renda
nacional; 4) hoje, no Brasil, temos cerca de 55 milhões de pessoas (26,2% do
total) abaixo da linha de pobreza e mais de 11 milhões que nem sequer sabem ler
e escrever (sem falar nos analfabetos funcionais – aqueles que leem, porém, não
entendem o que leem); 5) em 2018, a renda média do 1% mais rico da população
brasileira atingia o equivalente a 33,8 vezes o ganho obtido pelos 50% mais
pobres (R$ 27.744,00, contra R$ 820,00). Neste sentido, os 10% mais ricos
detinham 43,1% da massa de rendimentos do país, enquanto os 10% mais pobres
ficavam com apenas 0,8%, e por aí vamos. Ora, reformas estruturais necessariamente
precisam também encaminhar soluções a este descalabro. Esta é a essência das
crises nos diferentes países do mundo, e particularmente aqui na América do
Sul. Sem atacar tal problema, que é histórico, nunca haverá desenvolvimento.
Além disso, os cidadãos passam a acreditar, perigosamente, de que votar e ter
democracia não serve para nada, pois nada ou pouco muda não importando a linha
política que se coloca no poder. Entretanto, a questão é outra: é preciso, via
democracia, municiar os cidadãos com a capacidade, pela educação e formação de
qualidade, de eliminarem a diferença entre os da primeira classe (a minoria de
privilegiados, como os números nacionais o mostram) e os da segunda classe (o
restante dos brasileiros). Algumas sociedades no mundo, as quais chamamos de
desenvolvidas, no transcorrer da história o conseguiram. E a sociedade
brasileira, daqui em diante, que caminho buscará trilhar?