Argemiro Luís Brum
10/10/2019
Tem sido recorrente a queixa dos produtores de
soja quanto ao fato de que, a cada ano, estaria sobrando menos dinheiro com
esta cultura. Tomando o Rio Grande do Sul como referência, dados da Fecoagro
confirmam este quadro. Entre 2014/15 e 2019/20 o custo total da soja subiu
61,5%. Com isso, a rentabilidade da soja passa de 17,4 para 12,3 sacos no
período. Mas a situação vem de mais tempo. Entre 1999/00 e 2009/10, segundo
dados da Fecoagro, Conab, Emater e Farsul, o custo médio por hectare cresceu
183%. Em paralelo, a produtividade aumentou apenas 7,1%, enquanto o preço médio
do saco de soja se elevou em 114% (de R$ 17,40 para R$ 37,29). Desta forma,
nota-se que o resultado líquido por saco de soja passa de R$ 5,93 para R$ 6,97
(+17,5%). Entretanto, a inflação oficial do país (IPCA), no período, foi de
94%. Já entre 2009/10 a 2018/19 o custo cresce 160,9%, enquanto a produtividade
média gaúcha aumenta 29,2% e o preço médio recebido pelos produtores gaúchos
aumenta 93,4%, passando de R$ 37,29 para R$ 72,14/saco. A sobra líquida com a
soja melhora no período, passando de R$ 6,97/saco para R$ 10,92/saco (+56,7%),
porém, ainda abaixo da inflação do período, a qual acumulou 69,5%. Por outro
lado, duas considerações adicionais se fazem ainda necessárias: 1) muitos
produtores já estão conseguindo produtividade média acima de 60 sacos/hectare,
fato que melhora a sobra líquida; 2) a inflação do setor agrícola tem sido
maior, e as vezes bem maior, do que o índice oficial IPCA, em função de os
custos estarem muito relacionados à evolução do câmbio no Brasil (se no
primeiro período, ponta-a-ponta, o Real se valorizou 4,4%, no segundo período a
moeda nacional, na mesma metodologia, se desvalorizou 124,4%). Enfim, tais
cálculos reforçam outra realidade já historicamente observada no meio rural
brasileiro em geral e gaúcho em particular. A inviabilização econômica das
propriedades pequenas ao ficarem apenas com a atividade soja. Assim, uma
propriedade gaúcha com 50 hectares de planta, em 1999/00, teria conseguido uma
renda líquida total de R$ 11.860,00 (apenas R$ 988,33/mês). Já uma propriedade
de 300 hectares de planta obtém R$ 71,160,00 de renda (R$ 5,930,00/mês). Em 2018/19, a propriedade de 50 hectares,
pelos dados utilizados, consegue R$ 2.518,00/mês, enquanto a propriedade de 300
hectares atinge a R$ 15.110,00/mês. Ou seja, diante das dificuldades na obtenção
de renda através de produtividade e preço, quem pode busca o aumento horizontal
de sua escala de produção, cultivando áreas maiores, fato que leva à
concentração natural de terras e ao êxodo rural. Os demais, buscam a
diversificação da produção, o que nem sempre os viabiliza, ou acabam arrendando
ou vendendo suas propriedades.