Argemiro Luís Brum
24/10/2019
Na esteira da crise mundial de 2007/08
esperava-se que o mundo conseguisse gerar um novo sistema de regulação, estilo
Bretton Woods do pós-2ª Guerra Mundial, a fim de gerar uma estabilidade
econômica global que viesse a alavancar o crescimento geral e, quiçá, maior
desenvolvimento. Infelizmente, as instituições mundiais e os países em geral,
apesar de colocarem em prática algumas medidas prudenciais, fracassaram em gerar
este novo sistema de regulação. Com isso, deixou-se margem para o retorno das
bolhas especulativas; de governos populistas de todos os matizes, alguns
anti-globalistas, caso do atual governo brasileiro; do “cada um por si”, estilo
Donald Trump, e por aí afora. Resultado: o mundo está à beira de uma nova
recessão econômica mundial. Na América do Sul, a crise econômica se instala de
forma ainda mais veloz. Após a Venezuela quebrar, temos a Argentina, o Brasil,
o Equador e agora o Chile enfrentando enormes problemas, estes dois últimos com
fortes tensões sociais (no Chile, as maiores desde o final da ditadura militar
nos anos de 1990). A razão? Além da falta de um instrumento global de
estabilização, tem-se o relativo fracasso das políticas econômicas praticadas,
pelas quais usou-se o Estado para alavancar a economia, mesmo que alguns com
objetivos sociais meritórios, até os seus limites. Ou seja, se gastou mais do
que se arrecadou por anos à fio, até inviabilizar o próprio Estado. Em tal
estágio, o setor privado não responde, por falta de confiança e garantias, e o
Estado não tem mais fôlego para continuar atuando. O país trava e a Nação
empobrece. E é este último ponto o elemento central que explica, em boa parte,
as crises regionais. A democracia política não se reflete em bem-estar geral,
elevando o nível de vida do conjunto da sociedade (alguns nem democracia
possuem). Com isso, a maioria sofre e, em um determinado momento, explode. Foi
assim no Brasil em 2013, está sendo assim há muitos anos na Venezuela, está
sendo assim agora na Argentina, no Equador e no Chile. O aumento na passagem do
ônibus ou do metro é apenas a “desculpa” para os movimentos populares eclodirem.
Por trás, o que se tem, é uma opressão econômica geradora de grupos privilegiados,
os quais se utilizam do Estado para se manterem neste status quo. Na Argentina,
por exemplo, país que foi uma das cinco maiores potências econômicas no início
do século XX, encontramos hoje o caos, onde mais de 2 milhões de pessoas pobres
perambulam pelas ruas apenas de Buenos Aires, a inflação anual já ultrapassa os
55%, a taxa de desemprego supera os 10% (a maior desde 2006), o nível de
endividamento público atinge os 90% do PIB e a eleição presidencial deste
domingo, 27/10, tende a eleger novamente a linha de ação econômica que colocou
o país em tal situação, após a alternativa liberal fracassar em corrigir o
problema. E o Brasil? (segue)