Argemiro Luís Brum
12/09/2019
Entre 2007 e 2016 os governos brasileiros insistiram
em uma política econômica centrada no Estado como “alavancador” do crescimento,
através da máxima de que “o gasto público, para isso, deve ser ilimitado”. Ao
mesmo tempo, descuidaram-se do tripé de sustentação da estabilidade econômica
(meta inflacionária, câmbio flutuante e superávit primário). Alertamos durante
todo o período que, se os motivos para alavancar o crescimento eram bons, a
execução se mostrava desastrosa. Destacávamos que o risco de inviabilizar o
Estado, e com ele piorar o quadro econômico, era enorme. E, caso chegássemos a
tal situação, a recuperação da economia exigiria, inclusive, cortes pesados nas
áreas sociais, além de outras (educação, saúde, segurança, infraestrutura,
investimentos...). Pois chegamos a este estágio. Hoje, a ideia é recolocar o
país nos trilhos do crescimento necessário, após 10 anos de desastrada gestão
econômica (do segundo mandato de Lula ao final do governo Temer). Lembrando que
os constantes casos de corrupção, nesse período, pioraram ainda mais o quadro.
Hoje, a realidade econômica pode ser assim resumida: o país caminha para o
terceiro ano consecutivo, após a recessão, com um crescimento pífio, ao redor
de 1% ao ano, quando precisamos voltar a crescer, pelo menos, 4% ao ano; a
situação é tão séria que estudos divulgados pela FGV apontam que em 2020 (cujo
crescimento já está sendo revisado de 2,5% para 1,5%), fecharemos a pior década
econômica do país nos últimos 120 anos, com um crescimento médio de 0,6%, piorando
de longe a década perdida ocorrida entre 1982 e 1992; com isso, o desemprego
continua elevado, atingindo entre 11,5% e 12% da população ativa, sendo que a
pequena melhora recente destes números se deve ao aumento do emprego informal;
ora, emprego informal paga menos e, com isso, temos menos renda disponível para
o consumo (e sem consumo a economia não reage); ao mesmo tempo, não há
investimentos suficientes, especialmente na infraestrutura, comprometendo o
setor industrial, o agronegócio e até mesmo o setor de serviços; o Estado
brasileiro praticamente quebrou, precisando dos recursos privados. Ora, o setor
privado interno não encontra confiança suficiente para investir, enquanto o
setor privado externo se vê às voltas com dois problemas: a iminente volta da
recessão econômica internacional, exigindo cautela; e a insegurança interna no
Brasil, potencializada pelos discursos, geralmente irresponsáveis e descolados
das necessidades do país, feitos pelo Presidente e alguns de seus ministros (o
que deixa de “cabelos em pé” a área econômica do governo, além de seus
seguidores mais conscientes e preparados). Com isso, o recurso externo que
chega é largamente insuficiente. (segue)