RECESSÃO MUNDIAL: MAIS CEDO DO QUE O PREVISTO (?)
Argemiro Luís Brum
22/08/2019
Quem nos acompanha neste espaço deve lembrar que
há cerca de um ano estamos alertando que a economia mundial tende a entrar em
crise, semelhante à de 2007/08, em algum momento entre 2020 e 2024. Ora, os
acontecimentos internacionais deste mês de agosto permitem destacar que isso pode
acontecer já no próximo ano. Dentre os fatores que apontam para isso temos: 1)
o litígio comercial entre EUA e China se aprofundou neste mês, com a ameaça
estadunidense de taxar em 10% outros US$ 300 bilhões de produtos chineses a
partir de 1º de setembro. A resposta da China, dentre outras coisas, foi levar
a guerra comercial para o terreno cambial, desvalorizando sua moeda (yuan) para
níveis que não eram vistos há anos. Ora, uma guerra cambial atinge as economias
mundiais de forma muito mais profunda. Segundo economistas do Morgan Stanley,
“se os EUA impuserem tarifas de 25% sobre todas as importações chinesas por
quatro a seis meses, e a China retaliar, é provável que ocorra uma recessão
econômica global dentro de três trimestres”; 2) o risco de recessão na economia
dos EUA se mostra muito maior do que há dois meses. Isso porque “a diferença
entre os juros de 10 e 3 meses, mostra a maior inversão desde 2007, indicando
apostas em desaquecimento prolongado”. Não é por nada que os EUA, seguido de
muitos outros países, inclusive o Brasil, reduziram suas taxas básicas de juros
neste mês de agosto, após longo período estagnadas. A redução do juro é uma
tentativa de animar a economia e evitar a crise. 3) A Alemanha anunciou um PIB
próximo de zero no trimestre passado, estando muito próxima da recessão ela
também, fato que impacta em toda a economia da União Europeia em particular, já
que o país é a locomotiva econômica da região; 4) O resultado das prévias
eleitorais na Argentina, no domingo 11/08, derrubou ainda mais os indicadores
econômicos do vizinho país, com fortíssima desvalorização do peso e elevação do
juro básico local. O país já está na situação de “quebra fiscal”. Nestas
condições, associadas ao descontrole político brasileiro em torno das questões
ambientais, está comprometido no nascedouro o acordo comercial União Europeia-Mercosul,
sem falar no futuro do próprio Mercosul. 5) enfim, se não bastasse a saída do
Reino Unido da União Europeia, a Itália ameaça fazer o mesmo. Assim, uma
recessão mundial se aproxima celeremente, pegando o Brasil ainda despreparado e
às voltas com a pior crise interna dos últimos 120 anos. Os esforços para
ajustar as contas públicas locais são muito recentes, ainda incompletos e
insuficientes, diante de desafios imensos. Resultado disso, nosso PIB flerta novamente
com a recessão, devendo crescer neste ano entre 0,5% e 0,9%, piorando sua
fotografia dos últimos dois anos, e confirmando que, até o momento, a reação
pós-recessão de 2014-2016 está sendo pífia.