Argemiro Luís Brum
25/07/2019
As
pessoas, na crise econômica, buscam sinais de otimismo, mesmo lá onde há poucas
chances de existirem. Isso ocorre em relação a nossa economia. Estamos
caminhando para fechar a pior década econômica dos últimos 120 anos, com
crescimento médio anual de tão somente 0,6%. Podemos já estar novamente em
recessão técnica, dependendo do que virá no PIB do segundo trimestre. O PIB
para todo o ano de 2019, que era esperado perto de 3% no início do ano, já foi
recalculado pelo próprio governo em 0,8%, portanto, menor do que os dois anos
anteriores, que já foram pífios (1,1% anuais). O desemprego não está sendo
resolvido. No trimestre encerrado em maio passado estávamos com 12,3% de taxa
de desemprego, com 12,98 milhões de brasileiros nesta situação. A população
subutilizada (não trabalharam ou estavam subutilizados) bateu em 28,5 milhões
de brasileiros. Isso representa uma taxa de subutilização de 25%. Aliás, o
contingente de pessoas ocupadas somente cresceu graças ao aumento dos
subutilizados. Enfim, ainda há 4,9 milhões de brasileiros desalentados
(desistiram de procurar emprego por não o encontrar). Para piorar o quadro, os
salários não acompanham a inflação recente. Desde meados de 2014 (até março/19
inclusive), enquanto os preços subiram 30,8% (IPCA), os salários médios nacionais
subiram 19% (o salário mínimo, por agregar o crescimento do PIB de dois anos
antes, acabou subindo 37,8% no período, com ganho real de sete pontos
percentuais, porém, a partir de 2020 este ganho adicional não será mais
computado, pelo que propõe o atual governo). Soma-se a essa realidade o fato de
que o setor produtivo nacional está muito fraco (o desastre de Brumadinho; a
recessão na Argentina; o investimento que não se recupera no Brasil; a forte
dependência das reformas, que demoram para sair e, quando saem, indicam
desidratação em relação às necessidades fiscais nacionais, criando incertezas
quanto a capacidade de o governo levar adiante um ajuste fiscal estrutural, são
algumas das causas do problema). No que diz respeito ao investimento, um dos
elementos centrais para a alavancagem da economia, segundo estudo da FGV, a taxa está no menor nível em pouco mais de 50 anos,
evidenciando a fraqueza deste instrumento. Na média dos últimos quatro anos, a
taxa ficou em apenas 15,5% do PIB - um percentual tão baixo só é encontrado na
média dos quatro anos entre 1964 e 1967. Enquanto isso, a média mundial está em
26,2%. Assim, a economia nacional não apresenta capacidade de recuperação.
E, como já afirmamos neste espaço, liberar o FGTS e baixar ainda mais o juro
básico (Selic) tendem a ser paliativos de curto prazo, pois o essencial está
difícil de ser realizado e, quando o é, vem incompleto. Desta forma, é legítimo
buscarmos o otimismo, porém, antes de tudo precisamos de realismo econômico,
sob pena de incorrermos nos mesmos erros do passado recente.