Argemiro Luís Brum
01/08/2019
Apesar das oscilações, inerentes ao mercado, os
preços da soja no Brasil continuam baixos em 2019. Passados os primeiros sete
meses do ano, em termos médios, o saco da oleaginosa, no balcão gaúcho, está
girando ao redor de R$ 67,00. Um ano atrás o mesmo estava em R$ 75,84. Assim,
em termos nominais, a soja perdeu expressivos 11,6% em um ano. Considerando que
a inflação oficial é de 3,4% no período, a perda real ultrapassa os R$
12,00/saco. Aliás, nos últimos 10 anos, em termos médios o quadro pouco muda. Considerando
que no final de julho de 2009 o saco do produto era cotado a R$ 41,16 no balcão
gaúcho, na comparação ponta-à-ponta, há um ganho de 62,8% em relação ao valor
deste final de julho de 2019. Entretanto, a inflação oficial (IPCA) nos últimos
10 anos alcança 76%. Desta maneira, apenas para cobrir a inflação dos últimos
10 anos, a partir do valor praticado em julho de 2009, o preço da soja deveria
estar hoje em R$ 72,44/saco. Assim, em termos de poder de compra, a soja está
valendo menos hoje do que há 10 anos. O quadro prático tende a ser ainda pior,
pois os custos agrícolas, na média, sobem mais do que a inflação oficial geral.
Assim, o produtor rural gaúcho, para compensar esta diferença, tem que
registrar ganhos de produtividade física por hectare importantes. Se é verdade
que esta melhoria existe, também é verdade que sua evolução média não tem sido
suficiente para compensar as perdas financeiras. Desta forma, não surpreende o
sentimento dos produtores de soja de que, nos últimos anos, as margens de ganho
têm diminuído radicalmente em termos médios. E isso igualmente impacta na
economia geral, pois é menos renda líquida girando, fato que se soma à crise
econômica que se vive. Apenas para ficarmos com a realidade atual, em comparação
ao ano passado os três elementos centrais da formação do preço da soja estão longe
de ajudar neste ano. Primeiro: a cotação na Bolsa de Chicago, que registrava um
valor ao redor de US$ 8,75/bushel no final de julho/18, se encontra apenas em US$
8,85 atualmente, consolidando, na tendência, uma estagnação no período.
Segundo: o câmbio no Brasil trabalha ao redor de R$ 3,75 por dólar nesta última
semana de julho, contra R$ 3,82 um ano antes, igualmente demonstrando
estabilidade apesar de picos momentâneos que o levaram a ultrapassar os R$ 4,00
no primeiro semestre. Terceiro: o prêmio médio em Rio Grande recuou fortemente,
passando de US$ 2,18/bushel no final de julho/18 para apenas US$ 0,72
atualmente, consolidando uma perda de 67% no período. Neste último caso, a
peste suína africana na China abafou os efeitos do litígio comercial entre este
país e os EUA. Soma-se a isso o fato de que, na busca de preços melhores, os
produtores gaúchos seguraram a safra, tendo vendido apenas 51% de sua última
colheita até meados de julho (59% na média histórica para o período).