Argemiro Luís Brum
27/06/2019
O
estágio de crise em que a economia brasileira chegou, a partir de meados de
2014, não será superado com medidas paliativas. Outros governos já tentaram e
fracassaram. Assim, liberar recursos do FGTS e/ou reduzir a taxa Selic para 5%
ao ano, como alguns defendem, poucos resultados trarão à economia. No primeiro
caso, porque as pessoas estão muito endividadas, sendo que 40,4% da população
adulta (63,2 milhões de brasileiros) estão inadimplentes neste momento. Assim,
o que virá do FGTS pouco será destinado a novos consumos. A tendência será de
se direcionar ao pagamento de contas atrasadas e sair do vermelho. E mesmo que
venha para o consumo, será de curto prazo, além de endividar ainda mais parte da
população, travando mais a economia logo adiante. No segundo caso, e já se
cansou de alertar, de pouco adianta reduzir o juro básico se os juros reais da
economia, aqueles que realmente os cidadãos e as empresas pagam, não forem
reduzidos na mesma proporção. E isso, desde que a Selic começou a ser reduzida,
em outubro de 2016 (e mesmo antes), nunca aconteceu. E pela estrutura
financeira nacional, não acontecerá agora. Assim, não nos iludamos! Não serão
tais medidas, se vierem, que encaminhará uma recuperação da economia nacional.
Na prática, como a nossa crise é estrutural, centrada em déficit público que já
atinge mais de R$ 5 trilhões em seu total (US$ 1,3 trilhão ao câmbio deste
final de junho), apenas profundas reformas no cerne estatal é que poderão trazer
soluções, mesmo que sejam no médio prazo (as duas outras alternativas – aumento
de impostos e emissão de moeda geradora de inflação – aumentarão o desastre
logo adiante). Por isso, as reformas da previdência, tributária,
administrativa, fiscal, trabalhista e tantas outras são fundamentais para
destravar o Brasil. A questão é a qualidade de tais reformas. E isso irá
depender do embate político, particularmente no seio do Congresso Nacional.
Qualquer reforma à “meia-sola” e que não traga também, em seu bojo, redução das
desigualdades sociais, não será suficiente, podendo entrar no terreno das
medidas paliativas, fato que seria um desastre. Portanto, de fato não há uma
única ação salvadora. O que há, como já é sabido há anos, é um conjunto de
ações estruturais profundas a serem feitas, que atinjam a todas as categorias,
especialmente aos mais abastados e aos privilégios estatais. O primeiro grande
teste neste sentido é a reforma da Previdência. Como ninguém quer pagar a
conta, as dificuldades encontradas para a mesma avançar demonstram o tamanho do
desafio que o país tem pela frente. De fato, muita gente ainda não entendeu o
tamanho do estrago econômico que o populismo político dos últimos anos nos
colocou. E não será com mais populismo e medidas paliativas que as coisas se
resolverão. Se esse for o caminho, teremos mais uma década perdida entre 2021 e
2030.