Prof. Dr. Argemiro
Luís Brum
06/08/2015
O dólar vem se valorizando no mundo
todo em função da expectativa, cada vez mais presente, de que os juros nos EUA
deverão voltar a subir até o final deste ano, depois de longo tempo entre 0% e
0,25% anuais. A possibilidade de retorno da moeda estadunidense para o seu
local de origem força uma desvalorização das demais moedas. Todavia, aqui no
Brasil o processo de desvalorização do Real é bem mais agudo porque a realidade
econômica interna é muito ruim: há uma forte crise política, que impede que as
medidas de ajustes econômicos avancem; tais ajustes, patinando, levaram o
governo a reduzir drasticamente a meta de superávit primário (de 1,1% para
apenas 0,15% do PIB para 2015), com possibilidade de o resultado ser negativo;
isso é visto como um testemunho da incapacidade oficial no cumprimento da meta
inicial, apontando que a crise econômica brasileira será ainda mais profunda e
demorará mais tempo para ser solucionada (?); devido à redução da meta, as
agências de risco mundiais nos colocam em grandes probabilidades de perdermos o
chamado grau de investimento, o qual está por um fio; tal situação indica para
menos recursos externos entrando no país caso o grau seja realmente perdido;
tal realidade aponta para um PIB provavelmente negativo também em 2016,
retardando a recuperação econômica para 2017 e, talvez, para mais adiante;
enfim, o país apresenta um déficit das contas públicas, sendo que o primeiro
semestre do corrente ano registrou o pior resultado desde 1997 (nos 12 meses
terminados em junho/15 o déficit chegou a R$ 38,6 bilhões, equivalendo a 0,68%
do PIB, colocando em xeque até mesmo a nova meta de 0,15%). Esse último ponto
exige mais venda de títulos públicos, aumentando a dívida interna de um lado e
a demanda por dólares de outro, o que alimenta a desvalorização do Real. A tal
ponto que esta última já atingiu a R$ 3,45 neste início de agosto,
ultrapassando largamente a chamada paridade de poder de compra (tomando-se por
ponto de partida o ano de 1999), a qual estaria hoje ao redor de R$ 3,00/R$
3,10. E se perdermos o grau de investimento a desvalorização tende a aumentar,
pressionando mais a inflação interna devido ao alto volume de importações que
temos. Isso levaria a novos aumentos de juros (Selic), freando ainda mais a
própria economia, que já está em recessão. No curto prazo, o governo, para
evitar maior desvalorização de nossa moeda, poderá voltar a vender dólares no
mercado interno (via swaps), puxando de nossas reservas, estratégia que ele
reduziu de intensidade desde março passado. Todavia, isso somente acalma a
febre, porém, não soluciona o problema causador da febre. Portanto, o remédio está diretamente ligado à
realização de um ajuste fiscal profundo e bem feito, o qual permitiria, dentre
outras coisas, reduzir a venda de títulos públicos, revalorizando parcialmente
o Real e, aos poucos, colocando a economia nos trilhos novamente.